Cristão algum está a salvo da ameaça da tentação, do peso da culpa, da sedução das dúvidas, das armadilhas da solidão e da raiva, de dar ouvidos às falsas promessas da hipocrisia e do legalismo. Essas “distrações” querem man-ter-nos afastados do verdadeiro alvo da vida do cristão, que deveria ser o de refletir a vida de Cristo projetada em nós.
Embora não haja soluções pré-fabricadas para as desventuras da vida cristã analisadas neste livro, deve ter ficado claro que todas as reflexões apontam para uma mesma direção geral: Cristo.
A jornada cristã, como não deveria ser surpresa para ninguém, começa e termina nele. O “bom conselho” definitivo é o que Maria deu aos criados no casamento de Caná: “Façam tudo o que ele lhes mandar” (Jo 2:5, NVI).
1. Leia a Bíblia sob a perspectiva de Cristo. Como os evangelhos demonstram além de qualquer dúvida, Jesus é capaz de lançar uma luz nova e esclarecedora sobre a verdade das Escrituras. Na qualidade de Palavra de Deus, ele pode ajudar-nos a enxergar a realidade pungente e o ensino necessário que já estavam de fato lá e éramos simplesmente incapazes de perceber sem ele.
Parte indispensável do crescimento cristão é, portanto, ler e aprender a interpretar as Escrituras sob a ótica de Cristo, buscando ao mesmo tempo recursos, como este livro, que nos ajudem a fazer precisamente isso.
2. Baseie sua vida espiritual em sua lealdade a Cristo. Normalmente, entramos na vida cristã pela porta de alguma igreja, portanto é fácil confundir a essência da vida cristã com a fidelidade a determinada comunidade.
Se a conversão foi precedida de muita dúvida e reflexão, pode ser que ainda imaginemos a decisão ao lado de Cristo como um posicionamento ideológico, a adoção da nossa parte de uma série de conceitos e princípios a respeito de Deus, da integridade e da salvação.
A vida cristã é, no entanto, definida por nossa lealdade a uma pessoa, não a uma comunidade ou a um conjunto de idéias. A nossa relação criativa com a comunidade cristã da qual fazemos parte e a nossa fidelidade aos princípios cristãos só são possíveis (e concebíveis) a partir de nossa lealdade a Cristo, aquele a quem amamos porque nos amou primeiro.
3. Desenvolva um relacionamento de confiança com Cristo. Se todas as afirmativas da fé cristã são verdadeiras, Cristo está hoje tão (ou mais) vivo e presente quanto nos dias em que pisou as areias da Palestina, há 2000 anos. Ele está ativamente interessado no destino e nas escolhas de seus seguidores: ele quer ainda orientá-los, supri-los e surpreendê-los.
O privilégio da vida cristã é, então, desenvolver um relacionamento de confiança com o Cristo vivo. Aprender, como fizeram os discípulos antes de nós, a confiar em suas palavras e em suas decisões.
Isso não significa, naturalmente, que Jesus fará sempre o que você espera dele (basta ler os Evangelhos para aprender com os que conviviam com Cristo quão raramente isso acontecia). Significa conhecê-lo a ponto de perceber que ninguém é mais digno de confiança; aprender que é parte surpreendente do projeto dele tornar-nos também a nós, os falhos, gente digna de alguma confiança.
Ele, que distribuía desafios como: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mt 28:19, 20).
A última palavra deve ser sempre de Cristo.
Paulo Purim. IN: Yancey, P. Desventuras da vida cristã.